terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sr. Cesar

Meu avô não foi ninguém. No entanto, que grande homem ele foi para mim.

Esses dias com saudade, sonhei com ele. E como foi real! De tão realista, o sonho foi curto, foi breve no tempo de um abraço. Foi o único sonho que tive com ele em oito anos. Tenho um pouco de inveja de quem conviveu mais com ele, e assim, hoje pode tê-lo mais vivo nos sonhos e na memória.

Por esses dias, me sentindo um pouco sozinha, peguei o telefone antigo e liguei pra ver se ele atendia lá no céu. E Deus sabe o quanto eu queria que ele pudesse atender.


                                                   ****


- “Arô”?

-  Vô?! Como o senhor está?

- Ora, mas como eu deveria estar? Aqui tá tudo azul Lambes!

- Vô, eu não quero contrariar, mas acho que o senhor foi muito apressado, e foi embora muito cedo. Eu ainda preciso do senhor aqui. Veja só o senhor que eu nunca mais comi cacau!
Quando eu me perco de mim mesma posso imaginar o senhor me dizendo que uma hora eu me acho, mas acho que eu precisava mesmo era de um cola brinco daqueles pra ficar mais esperta e parar com essa birra de menina. Nada na vida me ensinou tanto quanto o senhor.
Sabe vô, parece que desde que o senhor foi embora, o jeito de ser feliz mudou. Falta história, falta família, falta o orgulho inspirador que o senhor tinha de mim. O senhor sempre teve mais certeza de mim, do que eu mesma.
Hoje falta alguma coisa, nem mais o suco de limão cravo tem depois que perdi o senhor...

- Ora, deixe de bestagem que praga de urubu magro não pega em cavalo gordo! Uma hora você se encontra, e uma hora a gente se encontra. Mas não vá se perder demais. Veja, por exemplo, a Tereza, demorei um tempo pra encontrar ela por aqui, porque a jumenta fica em cima de uma nuvem se culpando se chove, ou se não chove. Diz que é sem sorte, veja se eu posso com uma coisa dessa...
Me conte, minhas plantas, como estão?

- Não existem mais vô. Demoliram tudo e construíram uma quadra em cima, são os negócios.

- É, são os negócios. Uma pena, a mexeriqueira “Fernanda” devia estar carregadinha...
O jumento consertou o bug?

- Bom, na verdade consertou, mas se desfez dele...

- É um corno mesmo, e todo castigo pra corno é pouco! Lambes eu vou indo, vou dar uma volta porque eu to cheio de amigos por aqui, vou ali tomar um café de macho e depois a gente se fala...

                                                                           
                                                  ****


Eu sei, que de tudo que posso ter orgulho em mim, foi ele que me deu. E como é triste não tê-lo pra se orgulhar também. E como aquela menina chanel e roliça, eu sempre vou dizer: "Vovô, eu amo você!"

Meu avo não era ninguém. Mas nunca houve ninguém como ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário