São
Paulo. 17:49.
O
entardecer lindo e o transito parado.
As
motos passam e as sirenes nos perseguem. Sempre há uma sirene por aqui.
Era
uma ambulância. Ouvi dizer que 90% das ambulâncias que passam com as sirenes
ligadas cortando o transito, não carregam ninguém adoentado dentro. No carona
da ambulância o rapaz boceja. Não tem ninguém ali dentro, certeza. Eu sei que
pessoas morrem o tempo todo, mas bocejar com alguém morrendo ao lado é muita
falta de consideração.
23
de maio.
Um
homem salta do carro e começa a chutar a porta do ônibus que está parado atrás.
Será que bateu? Passo ao lado e no carro nada. Amigo, você e o carro estão bem,
vá pra casa e vida que segue. Tem gente que entra a toa em situações em que só
tem a perder. Lamentável.
Primeira.
Ponto morto. Primeira. Ponto morto.
O
ritmo só é interrompido pela emergência das sirenes. Espremem-se todos nos
cantos e pronto, já passou a emergência, voltemos à rotina.
A
gente se acostuma com o ritmo e leva ele pra vida também. Primeira, ponto
morto, e quando necessário, correr nas emergências.
Um
carro saindo do motel. Não é a esposa. Em plena quarta feira dar umazinha no
happy hour, ou melhor, um happy hour com happy end. Não era a esposa. Eu tenho
que parar de ver maldade, podem ser solteiros curtindo uma tarde juntos ué, por
que não? Mas que não era a espora, ah não era.
Ao
redor as pessoas com a mesma expressão. Quase todas com meio braço apoiado na
janela, o olhar vago e o pensamento distante. Pensando talvez em contas, em
trabalho ou na luz do óleo. Será que notaram o pôr do sol? O senhor do carro a
esquerda faz uma cara de satisfação. Pode ter lembrado de uma gracinha do filho
ou soltado um peidinho. Vai saber.
No
rádio a voz do Lewandowski sugerindo uma procrastinação eterna. “Deixemos pra
depois” diz ele com o rebuscado vocabulário jurídico. Eu não posso nem julgar,
procrastino sempre que possível. Pecamos muito por excesso de paciência, mas
confesso, cansei da infindável reclamação contra corrupção, cansei das
filosofias políticas de boteco. Cansei de me preocupar com o que está tão longe
de mim e não me fará passar mais rápido por esse transito. Aliás, esqueci de
marcar o dentista, já fazem dois meses que me esqueço.
Desligo
o rádio, reclino um pouco o banco, e começo a cantar alto a minha música
favorita. Quem passar vai logo pensar que foi o transito que me deixou assim.
Em flashes, imagino como deve ter sido. E, em flashes, lembro de como foi o meu dia, seguindo a linha do seu texto...
ResponderExcluir*gol do Corinthians, Guilherme...